Capítulo 11 - Egito - 2007


No dia 02 de maio de 2007, chegamos ao Cairo, capital do Egito. Ainda não tínhamos ideia de como seria  a excursão. Na Espanha fizemos nosso próprio percurso, bem da maneira como estou acostumada a viajar,  mas no Egito estava sendo diferente. E foi uma surpresa enorme. O guia que estava nos esperando na saída da imigração nos contou que éramos as únicas naquele pacote e que teríamos um guia no Cairo somente  para nós duas. Quer excursão melhor do que essa? Fiquei superaliviada, pois estava com receio de  encontrar aqueles grupos enormes.

Nós ficamos hospedadas no Sofitel Le Sphinx que fica um pouco distante, cerca de 35km do aeroporto, na cidade de Gizé. Já era noite quando chegamos no Egito e fomos  direto para o hotel.

Na manhã seguinte, o nosso guia já estava lá no hotel para nos buscar e teríamos um dia  cheio. A primeira parada era o Museu Egípcio do Cairo. Não era permitido tirar fotos dentro do museu por questões de preservação de todas as peças ali expostas. Há uma ala inteira dedicada ao Tutankhmon, além  de uma sala exclusiva de múmias. É incrível a preservação daqueles corpos, cada detalhe, até o cabelo está  preservado.

Foi em 1798 que Napoleão Bonaparte chegou ao Egito em uma expedição com mais de 100  estudiosos e cientistas que estudaram os aspectos da vida do Egito Antigo. Anos mais tarde, o descobrimento da pedra preta, a “Pedra de Rosetta” permitiu que a língua egípcia fosse decifrada.


Passamos um bom tempo dentro do museu, praticamente a manhã inteira. Comemos um lanche rápido e  partimos em direção às Pirâmides de Gizé. No caminho, tivemos a primeira visão das pirâmides. Como nós  chegamos à noite no Cairo e, consequentemente, no hotel, ainda não tínhamos realizado que teríamos esta  vista todos os dias em que ficássemos lá porque era essa a visão da piscina do hotel.

Finalmente chegamos  nas pirâmides. Uau! Não dá para acreditar na grandiosidade delas.



Quéops – a Grande Pirâmide – Quéfren e Miquerinos. As três pirâmides datam de 4500 a.C. A pirâmide  de Quéops tem 167m de altura e cada lado da base tem, aproximadamente, 230m de comprimento, sendo  de 20cm a maior diferença entre os quatro lados da base. Ela tem cerca de 2,3 milhões de blocos de rocha  e cada um pesa em média 2,5 toneladas. Os quatro vértices da base da pirâmide estão apontados para os quatro pontos cardeais, sendo o erro de menos de 15º.

Comprei o ticket para entrar e chegar até a câmara central da pirâmide. Eu entrei em Quéfren porque a de  Quéops estava superlotada e por dentro elas são bem parecidas. A grande diferença é o tamanho.

Dentro  da pirâmide a sensação é de pouco ar. Não tem nenhum tipo de ventilação interna. As passagens são muito estreitas e baixas. Logo que entramos, a Fafá desistiu e voltou, só eu segui até o final. Quem tem problemas  de joelho, coluna ou claustrofobia, aconselho a admirá-las somente por fora. Depois de descer uma grande rampa, com os joelhos e a coluna curvados, cheguei na primeira câmara interna, com cerca de 2m  quadrados. Atravessei essa câmara e subi a outra rampa, nas mesmas condições que a primeira, até chegar  à câmara principal. Por dentro, não há pinturas nas paredes, é só rocha. Também não é permitido fotografar internamente por questões de preservação.

Saí de dentro da pirâmide bastante cansada e com vontade de beber muita água. E então fomos experimentar a sensação de andar em camelos no meio do deserto e de  frente para as pirâmides. Poético, não?


Esses animais não são muito cheirosos, mas são de certa forma tranquilos (às vezes tentam te morder!). Eles  ficam totalmente abaixados, nós montamos e aí é que vem a sensação estranha. O camelo levanta primeiro a  parte traseira para depois levantar a dianteira. Quando ele levanta, parece que você vai ser arremessado por  cima da cabeça dele. Tem que segurar!

O passeio foi tranquilo e curto. Só para experimentarmos mesmo. Voltamos para o ponto onde pegamos os camelos e daí partimos para a Esfinge.


Esses pontos pretos na cabeça da esfinge são pombos. Não é permitido chegar tão perto a ponto de tocar a  esfinge. A esfinge é uma composição de corpo de leão e cabeça de humano, lavrada em um único bloco de  pedra, com 57m de comprimento, 6m de largura e 20m de altura. Não se sabe ao certo o que aconteceu  com o nariz da estátua.

Na volta para o hotel paramos em um fábrica de papirus onde pudemos ver o  processo de fabricação dos papirus, totalmente manual, o qual é feito com a flor que leva este mesmo nome. Na saída da loja aconteceu uma situação hilária. De maneira geral, os egípcios se encantaram pela Fafá e  quando estávamos saindo da loja, um senhor se aproximou e começou a oferecer camelos em troca da  Fafá. Achamos que era brincadeira e nosso guia interferiu. Quando nos afastamos, ele explicou que essa é  uma prática comum e que um bom camelo pode custar até USD10.000. Até hoje eu brinco com a Fafá, dizendo que eu devia ter negociado e iria ganhar um bom dinheiro (brincadeirinha!).

À noite, jantamos em  um pequeno navio chamado Scarabee, passeando pelo rio Nilo onde assistimos ao show de dança do ventre e de Tanura. A dança do ventre é mais popular aqui no Brasil e eu nunca tinha ouvido falar em  Tanura.


Quando vi fiquei maravilhada e achei muito mais interessante do que a primeira dança. Na Tanura, um  homem roda sem parar em seu próprio eixo. Ela tem algumas peculiarida des no Egito. Dizem que o movimento do mundo começa e termina no mesmo ponto, sendo, portanto, circular. Quando o dançarino da  Tanura se move, ele é como o sol, e os músicos ao redor são os planetas. Ele desamarra e tira quatro saias diferentes durante a apresentação. Seus rodeios simbolizam a sucessão das quatro estações e os  movimentos no sentido antihorário são exatamente como o movimento ao redor do “Kaaba”, o santuário  sagrado de Meca.

No dia seguinte, 04 de maio, pegamos um voo bem cedo para Aswan. Aswan é a cidade  mais ao sul do Egito, distante 950km do Cairo. Ali começaria o nosso cruzeiro pelo Rio Nilo até o templo  de Luxor, 280km ao norte de Aswan.

Embarcamos no navio Solaris II. Deixamos as malas e fomos passear  de faluka até o povoado Núbio. Faluka é uma espécie de veleiro. Durante o passeio pelo Nilo, vimos uma  série de tumbas construídas pelos núbios e a tumba de Aghakan. Paramos em uma praia do povoado núbio  para nadarmos no Rio Nilo. A água é bem gelada, mas como não entrar no rio mais antigo do mundo?  Nesta parte da excursão havia um casal no nosso grupo, o Adriano e a Cidinha, que também são  apaixonados pela história do Egito. Toda a excursão foi perfeita. A foto a seguir mostra as tumbas dos núbios na areia do deserto. 


Depois de nadarmos no Nilo, fizemos um percurso de aproximadamente uma hora, com camelos, até  chegarmos ao povoado núbio. Visitamos algumas casas, aprendemos sobre seus costumes, comemos  algumas de suas comidas típicas. E depois regressamos para o navio.

Na manhã seguinte, ainda em Aswan,  fomos conhecer a represa da cidade. Em 1946 a represa antiga quase se rompeu e iniciou-se a construção  de uma nova que foi finalizada em 1970. A área do Lago Nasser ocupa uma região de grande importância  arqueológica, onde 24 monumentos antigos foram recuperados. Nesse local ficava o templo de Abu Simbel, construído pelo faraó Ramsés II durante a XIX dinastia, em homenagem a si próprio e à sua esposa  Nefertari. O templo foi desmontado e remontado em outra região para sua preservação.

Depois da visita à represa fomos ao local onde foi encontrado um obelisco inacabado. Os obeliscos são construídos em um único bloco de pedra. Segundo a história sobre este monumento, quando os egípcios antigos o estavam construindo, identificaram uma rachadura no meio do bloco e, então, o abandonaram sem finalizar a construção.


Voltamos para o navio, e então começamos a navegar pelo rio Nilo.

Nossa primeira parada foi no Templo  de Kom Ombo. O Templo de Kom Ombo é dedicado a dois deuses: ao falcão Hórus, deus solar guerreiro,  e ao deus crocodilo Sobek.


O Templo de Kom Ombo foi erguido pelo faraó Tutmóses III, o mais importante dos quatro faraós com o  mesmo nome na XVIII dinastia. Impressiona a coloração das colunas principais, original de sua construção  que data aproximadamente 1500 a.C.

Partimos, então, para o Templo de Edfu. O Templo de Edfu também é em homenagem ao deus Hórus, construído por volta do século III a.C. na dinastia Ptolomaica.


Edfu tinha uma posição estratégica no Egito Antigo, situada na rota das caravanas que une o vale do Nilo e  as minas do deserto. Todas as paredes do templo são cobertas por inscrições do Egito antigo e algumas  ainda preservam a cor original. A foto seguinte mostra a estátua em homenagem ao deus Hórus, o deus com  cabeça de falcão. 


A visita ao Templo de Edfu foi de certa forma rápida, porque iniciava-se a corrida à eclusa. Era uma verdadeira corrida de navios pelo Nilo. Antes de passarmos pela eclusa fizemos uma parada em Esna, não pudemos entrar no templo. Esse templo foi dedicado ao deus Khnum, à deusa Neit, ao deus Heka e a  outras divindades de menor expressão no Egito Antigo. Aproveitamos nossa parada para fazermos compras  no mercado local. A próxima foto é da fachada do templo de Esna. 


Seguimos viagem. Teríamos uma longa jornada pela frente até chegarmos ao vale sagrado dos Reis. Estava um calor de mais de 45ºC e durante a viagem, enquanto estávamos no navio, ficávamos na piscina.  Chamou-me muito a atenção um casal mulçumano com dois filhos que estavam no cruzeiro. Enquanto  estávamos de biquíni na piscina, o senhor estava de bermuda e camisa de manga dentro d’água brincando  com as crianças enquanto sua esposa estava o tempo todo na beira da piscina, totalmente vestida (manga comprida, lenço na cabeça, etc) e às vezes fazia massagem nos ombros do seu marido, sem se refrescar. Neste momento, eu compreendi o quanto nossas culturas são distintas e que essas diferenças fazem do mundo um lugar incrivelmente interessante.

No dia seguinte, 07 de maio, chegamos ao famoso vale sagrado dos Reis. Ao contrário das pirâmides, que  eram tumbas construídas de forma que ficassem bem visíveis e, desta forma, eram facilmente encontradas e  saqueadas por bandidos, as tumbas do vale dos Reis foram construídas de maneira que ficassem escondidas  embaixo da terra. Essa região é um grande vale montanhoso onde, por um período de aproximadamente 500 anos, foram construídas tumbas para os faraós do Egito Antigo (XVIII a XX dinastias). 


As tumbas são decoradas com cenas da mitologia egípcia que testemunham as crenças e os rituais fúnebres  daquela época. A maioria das tumbas encontradas no vale dos Reis já havia sido saqueada na própria  antiguidade. Porém, em 1922, uma tumba foi encontrada intacta e se tornou a mais famosa por causa da  riqueza e dos tesouros encontrados ali: Tutankhamon. Para que as cores, ainda originais e incrivelmente vivas, possam continuar preservadas não é permitido fotografar dentro de nenhuma das tumbas e câmaras.  Com as descobertas, até 2008, já são 67 tumbas catalogadas no vale dos Reis.

Eu não cheguei a visitar  todas, fui a Ramsés I, Ramsés IX e sem dúvida não poderia deixar de visitar a de Ramsés III, considerado o último dos grandes faraós do Egito Antigo.

Na entrada de cada tumba há um mapa geral. Eu fotografei  todas que pude, mas coloco aqui a de Ramsés III. 


Depois do vale dos Reis, nos dirigimos ao Vale das Rainhas.

No vale das rainhas existem cerca de oitenta  túmulos e o mais famoso é o da rainha Nefertari.

Na encosta de uma falésia na região do vale dos reis e vale  das rainhas encontra-se o Templo de Hatshepsut. Nunca senti tanto calor como neste dia. Estava 52ºC  quando eu tirei esta foto.


O templo de Hatshepsut também é conhecido como templo de El Der el Bahari. Hatshepsut reinou o Egito  por quase 21 anos, quebrando tabus como a sucessão de uma mulher no trono de um faraó. Hatshepsut  chegou a denoninar-se “rei”, e inclusive em muitas estátuas mandou que a representassem como homem.  Segundo historiadores, ela foi uma excelente rainha e a primeira grande mulher da história do Egito.


Essa foto acima é uma estátua da rainha em forma de deus Osíris. A riqueza de detalhes e a coloração  impressionam. Hora de partir. Fomos em direção ao “Colossos de Memnon” e depois chegaríamos no grandioso Templo de Karnark. 


Colossos de Memnon são duas estátuas gigantescas do faraó Amem-hotep III (ou Amenófis III) que seriam  as guardiãs do templo funerário do faraó que foi completamente destruído pelas inundações do rio Nilo. 

Partimos em direção a Karnak. O Templo de Karnak é o maior do Egito Antigo encontrado. Foi construído  em homenagem ao deus Amon-Ré. Karnak é um complexo onde havia várias avenidas que ligavam ao  templo de Luxor e de Mut (esposa de Amon).


A sala mais importante do templo de Karnak é a Sala Hipóstila que foi projetada por Ramsés I, suspensa  por 134 colunas com 21m de altura e 4m de diâmetro cada. Vários outros edifícios secundários formam o  complexo do grande templo. A parte “S” do complexo é chamada de Luxor.

Luxor foi iniciado por Amem- hotep III e aumentado por Ramsés II. 


Na frente do templo de Luxor há duas estátuas enormes do faraó Ramsés II. Dentro do templo há diversas  estátuas em homenagem a ele. É realmente uma pena que não dá para colocar todas as fotos que pude tirar  quando estive no Egito. Nossa viagem pelo Nilo terminava e voltamos para o Cairo no dia seguinte.  Passamos mais dois dias lá, antes de voltarmos ao Brasil e foi muito interessante.

Durante toda a viagem ao Egito, até então, estávamos acompanhadas de um guia local. Os costumes são bem diferentes do Brasil, mas  no último dia, resolvi ver de perto a “vida como ela é”, sem a presença de um guia. Eu já tinha me  familiarizado com o local e fomos até um shopping nada turístico. Não foi uma sensação das melhores  porque as pessoas na rua e no shopping nos olhavam como se fôssemos de outro planeta. Nas regiões turísticas estivemos de bermuda e camiseta sem manga o tempo todo e não tivemos nenhum problema por  isso, mas na cidade, fora dos locais turísticos, não é bem assim. Apesar de estarmos de calça comprida, estávamos com camisa de manga curta e sem nenhum tipo de lenço no cabelo, o que chamou muita atenção na rua. Tratamos de voltar ao hotel, colocamos uma blusa de manga comprida e um lenço na cabeça,  daqueles típicos que havíamos comprado no mercado em Esna. Voltamos para a rua e fomos ao mercado  Khan El Khalili. Foi divertido chegar até lá porque não fazíamos a menor ideia de como se pronuncia isso e foi muito difícil encontrarmos alguém na rua que entendesse nosso alfabeto (eu estava com um mapa escrito  em letras romanas) e era muito mais difícil alguém que falasse inglês. Conseguimos nos comunicar com um  policial local que orientou o taxista a nos levar no tal mercado.

Esse mercado é uma loucura. O Khan El  Khalili é uma área comercial antiga com ruelas estreitas e milhares de tendas com artesanato e objetos  locais. Pechinchar é quase obrigatório. Chegamos a comprar objetos por menos da metade do preço oferecido inicialmente. Vale a pena conhecer.

Olha só como tivemos que sair para não chamarmos muita atenção. E o calor era de arrepiar! 


Nossas férias no Egito chegaram ao fim e foram inesquecíveis.

















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