Capítulo 5 - 2002 - Alaska


Minha viagem para o Alaska foi via Seattle. Comprei o bilhete mais econômico. Eu cheguei no Alaska em pleno sábado à noite e completamente sozinha. Fui para a cidade de Anchorage, mais ao sul do Alaska. Ao desembarcar no aeroporto, fui procurar um hotel que não fosse muito caro. Mas todos eram caros. Daí, fiz contato com um albergue. E pela primeira vez eu fiquei em um Hostel.

O albergue já estava quase fechando, então tive que pedir ao senhor que me atendeu que, por favor, me aguardasse chegar. O meu voo chegou à meia-noite e eu cheguei no albergue por volta das 02h da  madrugada. A sensação de dormir com mais três pessoas que eu nunca havia visto na vida e que já estavam dormindo não foi das mais agradáveis.

No dia seguinte, fui andar pela cidade e, para minha surpresa, vi uma cidade enorme com toda a  infraestrutura das cidades americanas. Eu, realmente, não esperava encontrar uma cidade assim. Anchorage é uma cidade bem bonita.

A próxima foto é da 4ª. Avenida, umas das principais. Eu andava por aí todos os dias para tomar café da manhã.


Era domingo e não tinha nada aberto. Então, andei e andei muito pela cidade. Praticamente 8 horas direto de caminhada pela cidade. Também conheci tudo que eu poderia conhecer a pé. Eu tentei achar uma agência de turismo aberta para saber que passeios teriam disponíveis, mas estavam todas fechadas. Só me restou mesmo caminhar. E vi paisagens assim como este lago, no meio da cidade.


No dia seguinte, já 2ª. feira, eu peguei um ônibus e fui para a outra parte da cidade, onde eu assisti um show típico dos nativos e conheci um pouco da cultura antiga e como eram construídos os famosos iglus. Foi bem interessante. Essa foto é de um iglu “moderno” para os nativos.


Depois segui para um shopping e no meio dele tinha uma pista de hóquei no gelo. Fiquei um tempo assistindo. Em uma daquelas lojas de departamento americanas enormes encontrei uma liquidação de  macacão de esqui. Acredite se quiser, mas meu primeiro macacão de esqui (o que eu tenho até hoje!) custou apenas USD15, 00 na liquidação. Não está errado não, custou quinze dólares mesmo! Nunca mais vou conseguir algo parecido.

Fui até uma agência de viagens para procurar por algum passeio interessante. Tinha um que saía em uma lancha e chegava até os icebergs passando por uma série de locais interessantes, onde poderíamos ver as focas, leão marinho e outros animais típicos do Alaska.

No dia seguinte, 24 de setembro, eu estava lá no píer para embarcar. Havia uma praça em frente ao píer de embarque em homenagem aos que morreram no terremoto de 1964. Em março desse ano, houve um terremoto de grandes proporções no Alaska, 9, 2 na escala Richter, cujo o epicentro foi bem próximo a Anchorage. Foi o pior terremoto da história do Alaska.


Não parava de chover, o que atrapalhou completamente o passeio. Na verdade se eu pudesse imaginar que iria atrapalhar tanto eu teria feito outra coisa. Por causa do mau tempo não conseguimos chegar perto dos icebergs e algumas pessoas começaram a passar mal dentro do barco. Eu tentei ficar do lado de fora do barco, mas o frio, o vento e a chuva estavam muito fortes. Então, fui lá para a cabine do capitão. Era de
fato o capitão gancho dos mares frios do Alaska!


E ficamos conversando até o final da viagem. É bem verdade que passamos por paisagens lindíssimas, com muita neve nas montanhas e o contraste do verde na base com as aves e os animais marinhos do local. Após o passeio de barco, fomos até uma espécie de zoológico natural onde pudemos ver, em seu habitat natural, alces e ursos marrons. O único urso polar que eu vi foi o que estava embalsamado, exposto no aeroporto de

Anchorage. Ao contrário do que pensam, no sudeste do Alaska há apenas ursos marrons ou ursos pretos. O urso marrom pesa em média 600kg e chega a medir, em pé, 3m de altura. Quase um bichinho de  estimação! E o que eu mais temi durante a viagem foi encontrar um urso pela frente. Olha que gracinha!


A maior aventura da viagem ainda estava por vir. Eu tentei todas as noites ver a aurora boreal, mas por causa do mau tempo só consegui ver nuvens no céu. Um grupo que se hospedou no mesmo albergue que eu e que estava vindo de Fairbanks, uma cidade no meio do Alaska, contou que lá eles conseguiram assistir
a esse espetáculo da natureza. Mas eu não tinha mais tempo para tentar ir a Fairbanks. Eu só teria mais um dia inteiro no Alaska. Então, resolvi alugar um carro e ir o mais longe que eu conseguisse nestas próximas 24h. Saí do albergue às 3h da madrugada em direção a Fairbanks, mesmo sabendo que não teria tempo de chegar e voltar de lá, que fica a 582km de Anchorage. Fui dirigindo por aquelas estradas sem absolutamente ninguém. E, como eu disse, meu maior medo era dar de cara com um urso. Não aguentei dirigir direto até amanhecer. Então, na primeira casa que vi eu encostei o carro na frente, recostei o banco e cochilei por mais ou menos 1 hora. As 6h eu continuei dirigindo, mas o mau tempo ainda persistia e eu não vi a aurora boreal. O dia estava amanhecendo por volta das 8h da manhã e eu comecei a procurar um lugar para tomar café. Olhei no mapa o nome da próxima cidade e segui viagem. Vi a placa com o nome da cidade que ficava a 2 milhas de onde eu estava. Continuei procurando o local quando percebi que uma outra placa indicava que a cidade já havia passado. Retornei. Bem, a localidade que eu consegui ver se resumia em um bar de um lado da estrada e uma igreja do outro. Eram pouquíssimas as casas, pelo menos no meu campo de visão. Entrei no bar e pedi ovos mexidos, pão e coca-cola. Claro que a senhora que me atendeu perguntou de onde eu era e eu disse que era do Brasil. Quase virou festa. A senhora disse que eu era a primeira brasileira a entrar no bar dela. Eu me arrependo até hoje de não ter tirado uma foto com aquela senhora. Depois do café, segui viagem e, apesar de eu não ter visto a aurora boreal, eu vi paisagens lindíssimas, formadas pelo contraste da vegetação que ainda estava verde, por ser outono, com as montanhas cobertas de gelo. Fiz uma estimativa de até que horas do dia eu poderia seguir viagem e quando eu deveria retornar, pois meu voo de volta ao Canadá era naquela noite. E ainda tinha que rezar para que nada desse errado. O mais
legal era tirar as fotos. Lembra que eu não tinha máquina digital e estava completamente sozinha?!


O mapa mostrava que havia uma geleira por perto, a Exit Glacier. E era para lá que eu estava indo. Até que comecei a avistar as montanhas de gelo onde, no meio, estaria a geleira. Lá ao fundo já dá para ter ideia do que eu veria de perto.


Segui até chegar em uma cancela. Para chegar na geleira tinha que assinar um termo de responsabilidade porque não havia guias. O caminho era bem acessível de carro. Tive que deixar o carro a cerca de 3,2 quilômetros após esta cancela e seguir mais 1,6km a pé pela trilha até a geleira.

Logo que estacionei o carro, vi o enorme e respeitoso bloco de gelo na minha frente. Claro que tive que tirar uma foto e depois descer a trilha até a base da geleira. Havia algumas placas alertando para o perigo de areia movediça. Eu resolvi seguir pelo lado direito, o qual não era o indicado. Isso porque eu não havia percebido que tinha uma trilha demarcada. Com cuidado fui chegando perto e percebi que o terreno por ali era bem encharcado. A base está o tempo todo derretendo e depois congelando o que faz o terreno em volta ficar literalmente ensopado. Essa sopa densa de areia é aquela areia movediça dos desenhos animados e eu fui lá conferir como era. E é uma sensação bem estranha pisar naquilo.


Do lado que eu estava eu não conseguiria chegar no paredão de gelo e resolvi voltar para tentar pelo outro lado. Foi quando eu vi que tinha uma trilha demarcada. Segui a trilha até a base da parede de gelo. Lembra dos refrigeradores que formavam gelo na parede do congelador? Imagine essa formação em tamanho gigante. Pois era assim mesmo. Praticamente azul. Parece azul porque a compressão das várias camadas

de gelo faz com que fique sem ar internamente. O gelo puro dá essa coloração.

Cheguei bem perto da parede para tirar uma foto. Foram várias tentativas porque escorregava um pouco e muitas vezes eu ouvia a máquina disparar antes de eu chegar onde eu queria. Mas até que quando revelei o filme fiquei surpresa.


Voltei para o carro e vi que ainda tinha algum tempo para seguir viagem, para ir até Iditarod Trail. Iditarod Trail é um lugar onde acontecem as corridas de trenó puxado por huskies. Infelizmente, como não havia neve naquela época eu não pude fazer um passeio bem polar. O tempo já estava ficando curto e tinha que voltar. Ao todo foram 900km em um único dia e com todas essas paradas. No meio do caminho eu parei em um posto de gasolina para tomar um banho, trocar de roupa, comer e voltar em segurança. À noite peguei o avião de volta para Vancouver, onde eu passaria mais um dia e retornaria ao Brasil.

Vou terminar a viagem pelo Canadá neste mesmo capítulo do Alaska.

Cheguei em Vancouver e fui direto para a casa do Drew porque meu intercâmbio já havia acabado. No dia seguinte encontrei os meus colegas Sirryl e Javier e fomos até a parte norte de Vancouver para passearmos de caiaque. Era o meu último dia no Canadá e das minhas férias de 2002. Alugamos dois caiaques. Eles eram de 2 lugares cada e éramos 4 pessoas. No meio do lago, o Javier e o Sirryl pararam, puxaram uma vara de pescar de dentro da mochila e ficaram no meio do lago pescando. Eu não acreditei que os dois levaram uma vara de pescar! Foi divertido. Acabamos o passeio e voltamos para nossas casas. No dia seguinte eu fui até a casa da família que havia me hospedado durante o intercâmbio para que eles me levassem até o aeroporto. Eu sempre gosto de chegar em aeroportos com antecedência e desta vez não foi bem assim. Tivemos que esperar o meu “host father” chegar com o carro, o que já estava me deixando apreensiva. Resolvi pegar um táxi, mas minha “host mother” não quis deixar. Disse que me levaria e que eu não me preocupasse com o horário. Enfim, o carro chegou. Faltavam menos de 2 horas para o voo. E fomos até o aeroporto numa velocidade que eu não podia acreditar. Para meu desespero, minha sensação era de que fizemos o percurso todo a 30km por hora. Por fim, chegamos ao aeroporto internacional, que estava simplesmente lotado. A fila do check in era interminável e não daria tempo de eu embarcar. Corri até uma atendente e contei que eu já estava na fila, mas estava muito preocupada com o tempo. A atendente me puxou pelo braço direto para uma cabine de check in e eu ainda teria que passar pela imigração. Bem, no final deu tudo certo e voltei para o Brasil como programado. Anos depois, em 2007 e 2008 eu voltei ao Canadá por diversas vezes, mas todas em Toronto e não foram de férias.

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