Capítulo 6 - 2003 - Argentina

Na verdade, eu vou contar duas histórias neste mesmo capítulo. Como eu estive na Argentina várias vezes, não faria sentido eu criar vários capítulos sobre a mesma cidade. Eu vou explicando ao longo do capítulo.

Em 2003, minha primeira ida a Buenos Aires não foi bem de férias. Eu estava a trabalho e não poderia  imaginar que acabaria ficando quase seis meses por lá. Durante este período, eu voltei ao Brasil algumas vezes.

Tudo começou com um projeto que eu havia apresentado para a diretoria da empresa onde eu trabalhava na época e a nossa Vice-Presidente ficava baseada na Argentina. Então, fui para lá.

A primeira ida foi de apenas dois dias e não deu para eu conhecer nada por lá. Na semana seguinte fui por mais tempo e já na outra, fui para ficar a semana toda. Então, no final de semana, eu pude conhecer um  pouco de Buenos Aires. Fiz um city tour passando pelos principais lugares da cidade: Casa Rosada e Plaza de Mayo, Obelisco na Av. 9 de Julio, o famoso Teatro Colón, a Catedral onde está o corpo do libertador da Argentina José de San Martín. Por último fui até La Boca e passei por El Caminito. Visitei, também, o  estádio do Boca Jr.

Eu estive na Argentina várias vezes depois deste ano. E em 2008 eu fiz todo esse roteiro novamente com a Vanessa. Mas desta vez, em 2008, eu estava realmente de férias. Como eu passei pelos mesmos lugares que em 2003, as fotos a seguir são as de 2008 porque já foram tiradas com uma máquina digital! Só as fotos de Rosário e Ushuaia é que são daquela época e foram tiradas com a minha máquina de filme de rolo. Eu vou contar essa história mais para frente.

Essa foto é da Casa del Gobierno, a Casa Rosada.


El Caminito tem uma história interessante. Esse era um lugar muito pobre, bem próximo ao porto, onde os moradores pintavam suas casas com o resto das tintas com que se pintava os navios. Por isso todas as casas são coloridas. Hoje, é um lugar pitoresco, turístico, restaurado e preservado.


Passei, em 2003, todo o meu primeiro final de semana na Argentina como uma verdadeira turista. No  sábado pela manhã, antes do city tour eu fui dar uma volta pela Calle Florida. Andei muito e fui até a Galeria Pacífico. Quem for a Buenos Aires não pode deixar de ir a nenhum desses lugares. O teto da Galeria Pacífico é uma verdadeira obra de arte. Essa é a foto da Vanessa na Galeria Pacífico em 2008.


À noite fui jantar em Puerto Madero. A região do porto foi toda reconstruída e, atualmente, concentra os melhores restaurantes de Buenos Aires. Bares, boates e restaurantes estão neste lugar.

No domingo fui à feira de San Telmo e à Recoletta. Recoletta é um lugar excelente para tomar um café à tarde. É superbadalada por gente jovem e bonita. Já a feira de San Telmo, apesar de ficar lotada, não me atraiu em nada.

Em 2008, eu estive novamente na feira e não podia deixar de colocar aqui a foto do pastel de forno;  conhecida como “empanada”, é mais linda que eu já vi.


Mais uma semana se passou naquele ano de 2003. No final de semana fui para Rosário. Rosário fica a 300km de Buenos Aires e foi onde José de San Martín decretou a independência da Argentina. Em maio de 2003, a Carla, uma amiga de uns amigos meus de Porto Rico, foi passar férias no Rio de Janeiro. Ela é de Rosário. Era aniversário dela quando a conheci. Acabamos ficando muito amigas e quando eu estava em Buenos Aires fui visitá-la em sua cidade.

Foi muito divertido porque ela tem uns amigos que voam de parapente. Fomos para Firmat onde fica a fazenda desses amigos. Naquela época eu não falava quase nada de espanhol e muito menos entendia. Era engraçado porque a Carla falava comigo devagar e conseguíamos conversar, mas com os amigos dela era quase impossível eu entender algo. Parecia conversa de doido. Eles falavam e ela “traduzia”, em espanhol lento, para mim. Eles não conseguiam entender porque eu entendia a Carla mas não conseguia entendê-los. Tempos depois eu voltei à Rosário e meu espanhol já estava infinitamente melhor e pudemos conversar sem precisar de intérpretes.

Bem, lá em Firmat, conversamos muito sobre voo e eles têm um monomotor de dois lugares. Eu fiquei louca para dar uma volta. Até que recebi o convite: – E aí, vamos voar? A resposta foi sem a menor cerimônia: – Claro!

E lá fomos passear naquele monomotor. Quando chegamos a uma altura segura, o piloto me perguntou: – Quer pilotar? – Adivinha qual foi a resposta... – Claro! Os comandos principais ficavam na frente, mas no lugar traseiro também havia pedais e o manche. Na hora do pouso, devolvi o comando ao piloto. Nem  preciso dizer que o final de semana foi divino.


No dia seguinte, apesar do frio, fomos passear de lancha pelo Rio Paraná. Agradeço a minha amiga Carla pelos ótimos momentos em Rosário e Firmat.

Mais 4 horas de ônibus e eu já estava de volta a Buenos Aires para mais uma semana de trabalho.

No final de semana seguinte, que não voltei ao Rio, fui até Colônia del Sacramento, no Uruguai. É um  passeio que leva um dia inteiro. Tomei um “BuqueBus” no terminal de Buenos Aires e poucas horas depois já estava em Colônia. Tenho que contar que em 2009, a Vanessa esteve comigo em Buenos Aires e fez esse passeio enquanto eu trabalhava.

Voltando ao ano 2003... Colônia é uma cidadezinha histórica portuguesa do século XVII. Está muito bem conservada e foi tombada pelo patrimônio histórico da humanidade. Essa foto é das Ruínas del Convento de San Francisco.


No final do dia, peguei o “BuqueBus” de volta para Buenos Aires.

As semanas se passaram e finalmente setembro chegou. Eu estaria de férias todo o mês de setembro. Eu, minha amiga Carla e o namorado dela fomos para Bariloche. Passamos uma semana em Bariloche. Era a minha primeira vez por lá. Dividimos um chalé de frente para o lago Nahuel Huapi.

Em 2008, quando estive lá novamente, fiquei em um hotel, também de frente para o lago e estava lindo em 2008 porque havia tido uma nevasca no dia anterior na cidade. Em 2003, eu somente havia passado por uma nevasca na montanha.


Vou contar a aventura que foi em 2008 para chegarmos em Bariloche.

Era a primeira vez da Vanessa na Argentina, então passamos o final de semana em Buenos Aires, fazendo todo aquele percurso turístico.

Na 2ª. feira, nosso voo seria às oito e pouco da manhã, mas quando chegamos no aeroporto percebemos que estava um caos. Os voos, simplesmente, não estavam partindo para Bariloche porque a pista do  aeroporto de lá tinha 50 cm de neve em função da nevasca e os pousos estavam suspensos. Não havia nenhuma previsão de voo, nem mesmo para o dia seguinte.

Iríamos passar uma semana em Bariloche e com esse acontecimento já não sabíamos nem se iríamos chegar. Decidimos, então, trocar nossa passagem para Neuquén e de lá partir de ônibus. No dia seguinte de manhã pegamos o primeiro voo para Neuquén. Chegando lá, fomos direto para a rodoviária e conseguimos pegar um ônibus que partiu logo em seguida. São 6 horas de viagem até Bariloche. Até que o ônibus-leito, era extremamente confortável e a paisagem até lá, compensadora. Afinal, estávamos na Patagônia!

Essa foto é da paisagem que tivemos durante o percurso até Bariloche.


Como chegamos em Bariloche já de tarde, não deu para ir esquiar, então ficamos passeando pela cidade e fomos alugar uma calça de esqui para a Vanessa.

No dia seguinte de manhã cedo, subimos para a estação de esqui. Alugamos os esquis e fomos até uma pista de iniciante para que eu pudesse ensinar os primeiros passos para a Vanessa. No início foi  divertidíssimo. Eu sei bem o que é o começo por que eu fiz as mesmas coisas, ou melhor, não conseguia era fazer nada. Durante todos os dias, a Vanessa virou muita cambalhota, mas aprendeu rápido. Eu quando estava aprendendo resolvi descer uma pista, que apesar de ser para iniciante, tinha um pouco mais de inclinação do que as pistas que eu já havia acostumado. Quando cheguei perto do final da pista, onde já se formava a fila de subida, eu não consegui parar e acabei derrubando alguns da fila. Por sorte não machuquei ninguém e depois achei até engraçado.

No terceiro dia em Bariloche, a Vanessa já se sentia mais confiante. Resolvemos, então, contratar um  professor particular para podermos descer a montanha toda. Eu não me sentia confortável para garantir a descida dela. Foi ótimo. Descemos a montanha inteira, do topo à base. E tudo com a maior segurança. O visual é realmente lindo lá de cima.


Esse foi nosso último dia de esqui. No dia seguinte, pegamos o ônibus de volta à Neuquén para, então, voltarmos ao Brasil.

Voltando ao ano de 2003, após minha estada em Bariloche com meus amigos Carla e o seu namorado, eu fui sozinha para Ushuaia. Eu ainda estava de férias. Ushuaia é a cidade mais austral do mundo, conhecida também como Fin del Mundo e é a capital da província de Tierra del Fuego. Uma cidade com temperatura média anual de 4,7ºC. No início do século XX foi construído o presídio de Ushuaia, o qual funcionou de 1902 a 1947 quando foi desativado. Atualmente, o presídio é o museu de Ushuaia. Naquela época, era para esse presídio que os detentos mais perigosos da Argentina eram levados.


O centro da cidade de Ushuaia é margeado pelo Canal de Beagle. Na cidade existe uma construção de 1992 chamada Cápsula del Tiempo. Eu fiquei emocionada ao ler a placa da cápsula que, resumidamente, diz para não ser aberta até o ano 2492. Ali, encontram-se seis discos gravados com programas de televisão e mensagem de centenas de argentinos. Esta cápsula foi construída com o intuito de mostrar às civilizações futuras uma parte da vida e do pensamento da nossa época.


Do presídio, saía o trem que levava os presos até o campo de trabalho no Parque Nacional Tierra del  Fuego. O Ferrocarril Austral Fueguino é a linha de ferro mais austral do mundo, atualmente em atividade turística para levar os visitantes ao Parque Nacional. Essa foto é de um lago no Parque, já descongelando.


O Parque Nacional é fim da rota nº 3. A ‘Ruta 3’ é uma estrada de asfalto, até bem conservada, que  atravessa a Argentina inteira de norte a sul e termina dentro do Parque Nacional Tierra Del Fuego. Eu não pude deixar de tirar a foto com a placa indicando a distância de Ushuaia até Buenos Aires e até o Alaska. Como eu já havia ido ao Alaska, eu não podia deixar de ter a recordação dos dois extremos do continente americano. Há muitos castores no parque, mas não consegui ver nenhum. Somente vi os diques que os  castores fazem (na foto anterior são esses galhos cortados que estão bem atrás de mim) para reprodução. Os castores não são nativos desta região. Há muitas décadas, foram introduzidos neste ambiente pelo homem e atualmente estão causando sérios impactos ao ambiente natural. Um outro animal, que também foi introduzido neste ambiente, foi o zorro. O zorro é uma espécie de lobo e esse sim eu consegui ver bem de perto.


Depois da visita ao Parque Nacional, finalmente fui andar em um trenó puxado por Huskies siberianos. Lembra que eu tentei fazer isso no Alaska, mas não havia neve suficiente? Pois em Ushuaia havia neve à vontade. Fui a um lugar chamado Altos del Valle, onde acontecem as corridas de trenó puxados por Huskie. Os cães são, de certa forma, dóceis e ficam muito à vontade na neve. O trenó comporta duas pessoas sentadas e mais o guia que vai em pé na parte de trás. Fizemos um circuito curto, mas deu para ter a sensação de como deve ser uma corrida dessas. Me senti quase papai Noel sendo puxado pelas renas.


Um outro lugar lindíssimo dessa região é o Paso Garibaldi (450m acima do nível do mar) de onde temos a vista dos lagos Escondido e Fagnano. Apesar de sua proximidade eles não se conectam. O lago Fagnano possui cerca de 100km de extensão.


Por fim, fui conhecer o Cerro Castor – centro de esqui de Ushuaia. O centro é bem moderno, com instalações novas. A neve estava boa, mas as condições no alto da montanha não eram das melhores. O vento estava forte e tinha pouca visibilidade, mas deu para curtir. Decidi ser um pouco mais abusada e ir até uma pista azul no topo da montanha. A dificuldade das pistas é classificada em cores: verde para iniciante, azul intermediária, vermelha difícil e preta é muito difícil, para muito experientes. A visibilidade estava  péssima e apesar de ser uma pista azul, terminando em uma verde, havia um pequeníssimo trecho preto, mas foi o suficiente para o pânico. Este trecho preto estava com muito gelo e era muito difícil de descer porque naquela época eu era iniciante. Acabei descendo de bum-bum no chão até chegar o trecho azul novamente, mas valeu a aventura.


Minha estada em Ushuaia chegava ao fim e eu partiria de volta ao Brasil no dia seguinte.

Posso dizer que eu realmente adorei ter ido a Ushuaia. Fiquei tão encantada com a possibilidade de estar muito próximo da Antártida que eu fui pesquisar se era possível chegar até lá. E é sim, mas não em setembro. As excursões para o polo sul somente começam em novembro e quem sabe um dia eu vou até lá?!

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