Capítulo 14 - França, UK e Escandinávia - 2010

No final de 2009, a Vanessa decidiu que iria visitar seu amigo Mike, em Londres. Ela já estava devendo esta visita há algum tempo e decidiu fazê-la no início de 2010. Foi, então, que ela me chamou para irmos juntas. Eu estava me planejando para tirar férias em novembro, mas acabei aceitando. Como tive que mudar os planos, concordei em ir para Londres desde que fôssemos até a Escandinávia. Vanessa concordou e comecei o planejamento dessa viagem.

Entrei em contato com algumas agências de viagem e não consegui montar nenhum pacote interessante. Aliás, fiquei bem decepcionada com o desinteresse das agências em montar um pacote como esse. Como já estou acostumada a comprar e planejar tudo pela internet, não foi diferente.

Foram alguns finais de semana inteiros debruçada no computador, pesquisando os trechos e tudo que iríamos fazer durante as férias.

Eu havia acertado com o meu chefe Renato Rovina que tiraria somente 15 dias e que o restante das férias ficaria para o final do ano, mas, depois de tanto desenhar e redesenhar o roteiro, vi que não conseguiria fazer tudo o que estava planejando em 15 dias. Cinco dias a mais ficaria bem melhor. Foi, então, que fechamos as férias em 20 dias. Vanessa também conseguiu fechar os 20 dias e, então, parti para a compra das passagens.


Meu carnaval foi, literalmente, dentro de casa comprando tudo o que eu podia comprar: passagens aéreas, de trem, hotéis, passeios. O plano estava se materializando. Agora já não tinha mais volta e o roteiro ficou incrível.

Mas o roteiro não se cumpriu por completo. Não tínhamos ideia do que aconteceria no meio da viagem. Vou contar.

Saímos do Brasil no dia 02 de abril de 2010. Nossa primeira parada foi Paris. Nosso voo fazia uma conexão em Lisboa, mas não tínhamos tempo suficiente para sair do aeroporto e darmos uma volta em Lisboa. Chegamos em Paris na manhã do dia 03. Apesar de estarmos muito cansadas, deixamos as malas no hotel e fomos conhecer a cidade.



Pegamos o metrô até a torre Eiffel. Lá estava ela, enorme, magnífica. Era feriado e a cidade estava lotada. As filas para subir na torre eram intermináveis. Como teríamos mais dias em Paris ao final da viagem, decidimos continuar o passeio e subir na torre na volta.

Na verdade, um pouco antes de entrarmos no metrô em direção à torre, passamos pela nossa primeira situação engraçada. No caminho do metrô começou a chover forte e não poderíamos ficar na chuva. Nossas roupas eram limitadas porque estávamos viajando somente com duas mochilas pequenas. Entramos na primeira vendinha que vimos pela frente e uma senhora nos atendeu. Nem eu e nem Vanessa falamos nada de francês, a única coisa que decorei era pedir desculpas, dizer que não falo francês e perguntar se a pessoa fala inglês. A senhora não falava nada além de francês e foi uma conversa de doido até que no final conseguimos comprar os dois únicos guarda-chuvas que havia na loja.

Em frente à torre, tomamos um ônibus e rodamos pela cidade. Era um daqueles ônibus de dois andares onde o andar de cima é aberto. Estava frio e às vezes chuviscando, mas agora tínhamos guarda-chuva. Depois de muitas voltas passando pela capela da Sorbonne na Universidade de Paris, pelas margens do rio Sena, pela av. Champs-Elyseés, ao redor do Louvre, Basílica de Sacré-Coeur e outras belezas, decidimos parar em frente ao Ministère de La Justice e daí, seguimos a pé. Paramos para um café, caminhamos até a Praça Concorde onde de um lado se vê a famosa av. Champs-Elyseés, e do outro o Louvre.

Paris é uma cidade charmosa, elegante e estávamos muito ansiosas para a volta, pois teríamos mais alguns dias para explorar tudo o que pudéssemos.

Um pouco da história... Ao longo do século XII, Paris se tornou um dos primeiros lugares da Europa no ensino e na arte. No início do século XIV, Paris já era a cidade mais importante do “mundo ocidental”. No século XVII se tornou a maior potência política europeia. E logo em seguida, uma série de Revoluções que durou cerca de 10 anos, conhecida como Revolução Francesa, alteraram o quadro político e social da França. Em 1799, Napoleão Bonaparte toma o poder e em 1804 é sagrado imperador. Cerca de 15 anos mais tarde há a queda do império. Nos anos de 1850 a 1870, época do Segundo Império de Napoleão III, Paris se transforma radicalmente em termos de urbanização e habitação. Em 1889, a Torre Eiffel foi construída para a comemoração do centenário da Revolução Francesa. Paris viveu seu apogeu artístico do século XIX ao início do século XX.


Na foto estou na Praça Concorde, palco de uma manifestação com 1 milhão de pessoas apoiando o governo e o General de Gaulle, em maio de 1968.

Voltando à viagem. Da praça Concorde pegamos o metrô e voltamos para o hotel. Diga-se de passagem, é impressionante o sistema de metrô de Paris. No dia seguinte, 04 de abril, partimos para Londres.

Chegando em Londres, mais uma vez nos surpreendemos com o sistema de metrô. Não havia necessidade alguma de alugarmos um carro ou pegarmos táxi. Deixamos as malas no hotel e fomos conhecer a cidade. Pegamos o metrô até a saída mais próxima ao London Eye. Quando saímos do metrô não sabíamos que além do London Eye estaríamos na frente do Big Ben e do Palácio de Westminster, sede do parlamento britânico. Tiramos muitas fotos e fomos andando até o London Eye. London Eye é uma roda gigante que foi construída em 1999 para marcar a passagem do milênio. Atualmente não é mais a maior do mundo. Com 135m e altura, lá de cima temos uma vista incrível de Londres. O Big Ben, por sua vez, não é bem o nome do relógio como muitos pensam, inclusive como eu pensava. É o nome do sino que fica na torre do famoso relógio do parlamento inglês. Um sino de 13 toneladas que foi instalado nesta torre em 1859. E o Palácio de Westminster dispensa comentários. Construído no século XIX, possui mais de 1000 salas, 100 escadarias e cerca de 5km de corredores. Todos esses três pontos ficam situados às margens do Rio Tamisa.

Compramos os tickets para a subida no London Eye. A volta completa leva em torno de 30 minutos e dá para ter uma boa visão de Londres. A roda não para em nenhum instante, você embarca e desembarca com ela em movimento. À noite fomos a um pub e no dia seguinte partimos em direção a Stonehenge.


Stonehenge é sítio arqueológico, pré-histórico que fica localizado nas planícies de Salisbury, ao sul da Inglaterra. Ninguém ao certo sabe a finalidade de sua construção. Datado entre 2800 e 1100 a.C., essas pedras foram levadas de longe, até 400km de distância. O mistério é porque havia pedreiras bem perto da localidade onde se encontram os monolitos. Há diversas lendas e mitos acerca de sua construção, inclusive de que era utilizado para sacrifícios, rituais religiosos ou estudos de astronomia. No dia 21 de junho, início do verão nesta região, o sol nasce em perfeita exatidão sob a pedra principal.


Regressamos a Salisbury de onde parte o trem de volta a Londres. Salisbury é uma cidade linda que conserva sua característica medieval, com construções que datam de 1220, como por exemplo a Catedral de Salisbury.

O dia seguinte foi nosso último dia em Londres. Então, aproveitamos para conhecer o Palácio de Buckingham e o Teatro Madame Tussauds. O Palácio de Buckingham é a casa oficial da monarquia desde a ascensão da Rainha Vitória, em 1837. Todos os dias, durante o verão, e em dias alternados durante o inverno, acontece a cerimônia da troca da guarda que reúne multidão em frente ao Palácio. Para nossa sorte, assim que chegamos no Palácio, estava justamente acontecendo a troca da guarda. E é realmente uma multidão assistindo ao evento.

Em seguida fomos ao famoso teatro de cera, o Madame Tussauds. As estátuas são perfeitas – atores, cientistas, jogadores, tudo em tamanho natural. Olha só eu e o Morgan Freeman.


Nossa passagem por Londres acabou por aqui e partimos em direção ao aeroporto para o nosso voo para Helsinki, Finlândia.

Chegamos na Finlândia já tarde da noite e pegamos um ônibus para o centro da cidade. Fazia muito frio, a cidade ainda estava coberta pela neve, apesar de ser primavera. Do centro da cidade, pegamos um táxi até o hotel. Estávamos muito cansadas e fomos logo dormir. No dia seguinte, acordamos com uma bela neve caindo, mas que logo depois passou. Fomos, então, conhecer a cidade.




Helsinki é a capital da Finlândia, a maior cidade do país, e espalha-se por várias ilhas, incluindo a fortaleza de Suomenlinna.



A capital foi fundada em 1550 pelo rei da Suécia e no século XVIII os suecos construíram a fortaleza de Suomelinna na tentativa de protegerem a região do expansionismo russo. A Rússia acabou ocupando a Finlândia e em 1917, o país se tornou independente.

Passamos apenas uma noite em Helsinki. Nosso objetivo era chegar em Rovaniemi. Na noite do dia 07 de abril pegamos o trem para Rovaniemi. Foram 12 horas de viagem. Estávamos ansiosas porque chegaríamos ao Círculo Polar Ártico. O Círculo Polar Ártico é o paralelo de latitude 66º 33’ 39’’ norte. Foi muita expectativa porque eu tinha um objetivo muito forte, que era ver a Aurora Boreal. Infelizmente, apesar de ter passado vários dias acima do Círculo Polar Ártico, as nuvens não me deixaram ver esse espetáculo da natureza. Vai ficar para a próxima.

Rovaniemi é uma cidade bem estruturada, com shoppings, restaurantes, hotéis, além de ser considerada a capital da Lapônia.


A Lapônia é uma região no norte da Escandinávia compreendida pela Finlândia, Suécia, Noruega e Península de Kaola (Federação Russa). No século XVI se iniciou o pastoreio de renas nesta região e até o início do século XX não havia estradas. O transporte era feito por trenós puxados por renas no inverno e por barco ou cavalo no verão. Dois fenômenos naturais são muito conhecidos nesta região: o sol da meia-noite (no verão) e a aurora boreal (no inverno) os quais atraem turistas durante o ano, além de ser conhecida como a terra do Papai Noel. Durante o inverno, esta região da Lapônia chega a ficar 30 dias sem a luz do sol e durante o verão até 720 horas sem noite. Daí para o norte, gradativamente, ocorrem mais dias em que o sol não aparece. No polo norte, o sol não aparece durante 6 meses. O centro turístico – conhecido como Santa Claus Village, fica situado exatamente em cima do Círculo Polar Ártico e para chegar lá fomos com muito estilo!




Na chegada deste complexo há uma linha desenhada no chão com as coordenadas da latitude do Círculo Polar Ártico. Confesso que foi emocionante ver as coordenadas desenhadas no chão. Entramos no complexo e fomos conhecer o Papai Noel. Afinal, ir até lá e não ver o Papai Noel é como ir a Roma e não ver o Papa!

Neste mesmo dia pegamos o trem de volta para Helsinki. Não era para ficar em Helsinki, mas sim para pegar um voo para Kiruna, na Suécia. Passamos a noite no trem e logo pela manhã já estávamos embarcando para a Suécia.

Ainda no Brasil, enquanto planejávamos a viagem, decidimos que em Kiruna faríamos uma aventura diferente. Decidimos dormir em um iglu. Daí, assim que chegamos em Kiruna a nossa guia já nos aguardava no aeroporto. Fomos direto para a garagem buscar o snowmobile. Foi um percurso de mais ou menos 1 hora no meio da floresta completamente coberta pela neve até chegar ao acampamento que fica às margens do rio Torne. Eu e Vanessa fomos revezando na direção pois é bem cansativo pilotar. O rio Torne é considerado o maior rio desta região; se inicia na Noruega e segue até a Finlândia, tendo em sua totalidade 521km de comprimento.

Durante o percurso paramos algumas vezes para recolher galhos das árvores. Esses galhos e suas pequenas folhas serviriam de isolante térmico dentro do iglu. Ao chegarmos próximo do acampamento, onde construímos nosso iglu, parte do trecho foi percorrido sobre o rio completamente congelado. É impressionante ver um rio, com tamanha extensão, completamente congelado e ainda estávamos andando de snowmobile sobre ele. Logo que chegamos demos início à construção do nosso iglu.



Não tivemos moleza. Pá na mão e cavando a neve. Há toda uma técnica para não cavarmos mais do que devemos e corrermos o risco do teto desabar na nossa cabeça. Espetamos gravetos de cerca de 20 cm ao longo do “bolo” de neve e só então começamos a cavar. Quando, por dentro, cavamos até o graveto, hora de parar. Todo o iglu não deve ter menos do que 20 cm de espessura. Depois de cavar a parte interna, colocamos os galhos de árvore com folhas e por cima uma pele de rena. Até porta fizemos com a pele de rena. Ficou lindo! A sensação é que você está dormindo dentro da sua geladeira!

Hora de descansar... nada! Hora de furar o rio para pegar água para beber, cozinhar, escovar os dentes...

Com uma ferramenta especial, que mais parece um sacarolhas gigante, fomos para o meio do rio para fazermos um buraquinho. Furamos cerca de 1 metro de gelo e lá estava a água. Transparente e pronta para beber. Bebemos ali mesmo pois já estávamos exaustas e, acredite se quiser, com muito calor.




A noite chegou e fomos jantar. Nossa guia preparou uma comida bem típica da região. Carne de rena com macarrão. A rena tem um gosto acentuado, mas é bem gostosa. Chegou a hora de dormir e fomos nos aconchegar no iglu. O dia todo estava fantástico, sem nenhuma nuvem no céu e por isso fiquei muito ansiosa para ver a aurora boreal, mas à noite as nuvens chegaram. O céu fechou-se por completo e somente conseguimos ver o clarão por cima das nuvens. Imagino como não seria se não estivesse tão nublado. Foi uma decepção. Mas natureza é assim mesmo, imprevisível.

No dia seguinte, após o café, pegamos o snowmobile e voltamos para a garagem. Nossa guia nos deu uma carona até o famoso Hotel de Gelo (Ice Hotel).

Todos os anos, no início do inverno, um time de "construtores de gelo”, artistas e arquitetos começam a construção do Ice Hotel. Blocos de gelo são cortados e retirados do rio Torne para a construção do hotel. Artistas fazem verdadeiras esculturas no gelo as quais fazem parte da decoração de cada suíte. As camas são de gelo e cobertas por pele de rena, as colunas do hotel são de gelo, os lustres também. Tudo com muito bom gosto. Há, também, uma igreja toda de gelo e o Absolut Ice Bar, onde até o copo é de puro gelo.

Essa foto é da entrada principal.

As suítes de luxo são decoradas com esculturas diversas. Cada suíte com seu tema.

Esse rosto foi esculpido na neve e seus olhos são de gelo. Simplesmente lindo.



Depois de conhecermos o complexo do hotel, fomos para a parada do ônibus. Só havia um único ônibus naquele dia e se perdêssemos teríamos que gastar um bom dinheiro em um táxi. Voltamos para a cidade e, então, fomos para o hotel, que ficava de frente para uma mina de minério de ferro. A cidade é rica em minério e sua economia gira em torno da mina.




No dia seguinte, pegamos o trem em direção à Noruega. Quando entramos em território norueguês, pudemos observar a diferença de relevo. Os fiordes foram surgindo com uma paisagem deslumbrante. Fomos de trem até Narvik e de lá pegamos um ônibus para Tromsø. Sorte que aceitam cartão de crédito dentro do ônibus. Como chegamos à Noruega de trem, não tínhamos nenhuma Coroa Norueguesa (moeda local) e tampouco encontramos uma casa de câmbio na redondeza.

A viagem até Tromsø é bem demorada, mas o visual compensa. Chegamos no final da tarde e aproveitamos para ir a um bar que ficava em frente ao hotel.

Na manhã seguinte saímos em direção ao teleférico que leva até o topo de Storsteinen. Mas, como estava nevando e o tempo bastante fechado, resolvemos não subir. A vista deve ser linda, mas provavelmente não veríamos nada lá de cima. Com aquele tempo nem conseguimos saber se o teleférico estava funcionando. Ficamos caminhando pela cidade e fomos a um museu com uma exposição de fotos sobre a história de uma mulher da Indonésia que casou-se com um norueguês. Era sua perspectiva a respeito da Noruega. Logo em seguida fomos à biblioteca pública da cidade e fiquei impressionada com o tamanho e modernidade daquele lugar. Não é por acaso que a Noruega, atualmente, é classificada como o país mais rico do mundo, com a maior reserva de capital per capita do que qualquer outra nação (dados de Abril/2009 – International Monetary Fund), além de ter sido considerada pela ONU o melhor país do mundo para se viver.

No dia 14/04, aniversário da Vanessa, partimos em direção ao que é considerado o ponto mais setentrional da Europa: Nordkapp. Na realidade, não é este o ponto mais setentrional, mas é considerado pela facilidade para se chegar. O ponto realmente mais setentrional fica a poucos quilômetros de Nordkapp, mas não se consegue chegar lá por terra. Pegamos o avião de Tromsø até Honningsvåg, onde ficamos hospedadas. Em Nordkapp mesmo não há nada além do monumento que marca o que se considera o ponto mais setentrional. O vilarejo que havia neste local foi totalmente destruído pelos alemães durante a 2ª Guerra Mundial e nunca mais foi reconstruído. Em 1553, uma expedição inglesa deixou a Inglaterra rumo ao norte em busca da passagem para a China. Durante uma tempestade, o navio comandado por Richard Chancellor avistou um enorme penhasco e o chamou de North Cape (em inglês), nome pelo qual é conhecido até hoje.

Honningsvåg é uma cidade com pouco mais de 2.500 habitantes. E esta sim é a cidade, ou vilarejo habitado, mais setentrional da Europa.

Assim que chegamos, deixamos as mochilas no hotel, alugamos um carro e fomos direto para Nordkapp, que fica a 30km da cidade. Como o dia estava lindíssimo e o tempo poderia mudar rapidamente, não perdemos tempo. Só há uma estrada até Nordkapp. Havia um pouco de gelo na estrada, mas foi fácil chegarmos lá. O lugar é realmente muito bonito. O contraste do branco da pura neve com o azul do mar faz daquele, um lugar fascinante. Além de que, estávamos quase no polo norte! Há uma estrutura bem organizada para os visitantes, com loja para compra de souvenirs, toilette, restaurante e um museu contando a história daquele local.

O caminho todo até a ponta do penhasco onde está o Globo, marco de Nordkapp, é assim, neve e somente neve. Quando a estrada margeia a beira do penhasco, o visual é deslumbrante. Chegamos, finalmente, ao ponto mais extremo do norte da Europa. Eu estava ansiosa para chegar perto do globo porque havíamos levado uma bandeira do Brasil para tirarmos foto lá.




O vento estava forte e com isso a sensação térmica era baixíssima. Não havia levado o termômetro para lá, mas cheguei a ficar com a ponta dos dedos um pouco roxa e, após apreciarmos aquele visual, tivemos que ir para dentro do restaurante.




Resolvemos entrar na parte do museu. É um caminho até um salão que tem uma vista panorâmica para o mar Ártico. Já eram 2h da tarde e percebemos que não havia ninguém por ali. Comecei a ficar preocupada e resolvemos voltar, mas ainda demos uma parada no toilette. Quando chegamos de volta ao hall principal não havia absolutamente ninguém e as portas estavam fechadas. Por um momento, achamos que iríamos passar o resto do dia e da noite naquele lugar, mas eu consegui abrir a porta e partimos em direção ao carro. O lugar fecha mesmo às 2 da tarde. Começamos, então, a pegar a estrada de volta e a grande vantagem de termos alugado o carro foi de podermos ter parado em vários lugares para apreciarmos a paisagem. O lugar é realmente muito lindo.




Chegamos de volta no hotel e havíamos combinado com o senhor que nos alugou o carro que ele o buscaria lá. Se não fosse buscar naquele mesmo dia, seguramente iria no dia seguinte pela manhã. Como o dia estava muito bonito, eu fiquei com muita esperança de ver a Aurora Boreal e resolvemos fazer uma caminhada para encontrarmos um lugar adequado para ficarmos apreciando a dança das luzes coloridas no céu. Mas para minha decepção, no final do dia o céu já estava completamente nublado.



Como o senhor ainda não tinha ido buscar o carro, aproveitamos e demos mais uma voltinha pela cidade à noite.

Voltamos para o quarto e ficamos assistindo o telejornal local. Claro que não entendíamos nada porque era em norueguês. Certo momento, a Vanessa me chamou para ver uma imagem maravilhosa de um vulcão em erupção e não podíamos imaginar que a nossa saga iria começar poucas horas depois.

No dia seguinte, levantamos e fomos passear pela cidade. O tempo estava bem fechado e vimos que tínhamos tomado a decisão certa de termos ido a Nordkapp no dia anterior. No final da tarde, voltamos para o hotel e como pegaríamos o voo para Olso bem cedo no dia seguinte, resolvi reservar um táxi na recepção do hotel. A conversa foi engraçada. Eu expliquei à senhora que me atendeu que eu havia um voo às 6 da manhã do dia seguinte e não poderia correr o risco de me atrasar. Daí ela me falou que eu não iria voar no dia seguinte. Eu achei que ela não havia entendido e expliquei que eu já tinha as passagens aéreas e queria agendar um táxi. Mais uma vez a senhora me disse que eu não iria voar para nenhum lugar no dia seguinte. Aí eu não entendi e perguntei o que estava acontecendo. Ela me perguntou: “– Você não está assistindo às notícias?”. Bem, eu até que assisti no dia anterior, mas não entendi nada por causa do idioma! Ela continuou explicando que por causa da erupção do vulcão Eyjafjallajoekull (esse nome é impronunciável!), na Islândia, todos os aeroportos do norte da Europa estavam fechados e a previsão era de abertura em 48 horas. Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo e comecei a pensar como sairíamos de lá e chegaríamos a tempo para o voo de volta ao Brasil.

Para nossa sorte, existe um ônibus diário que parte às 06h45min da manhã em direção a Alta. Decidimos, então, começar a descer e não esperar as 48 horas para saber se teríamos condições de voar até Oslo. Na manhã seguinte (16 de abril), estávamos às 06h30min no ponto, no centro da cidade, esperando o ônibus. Foi aí que conhecemos o Andrzej. Um polonês de mais ou menos uns 40 anos de idade e muito simpático. Ele estava passando exatamente pela mesma situação que nós e foi uma ótima companhia, pois conhecia várias possibilidades para chegarmos em Paris no dia 21 de abril. Foram horas de ônibus até Alta. De Alta pegamos outro ônibus até Narvik. Havíamos decidido voltar pela Suécia e não pela Noruega. Foram mais outras tantas horas até Narvik. Até uma balsa nós pegamos de ônibus. Finalmente, chegamos em Narvik e fomos tentar comprar passagem de trem para Stockholm. Ficamos em um albergue, mas conseguimos um quarto privado, que não compartilhamos com ninguém. Havia várias pessoas no albergue na mesma situação que nós e nos disseram que não conseguiram comprar passagem para os próximos dias, nem de trem, nem aluguel de carro, nada. Todos daquela região tinham que chegar em Copenhagem, na Dinamarca, para então pulverizar para o restante da Europa. Fiquei no computador do albergue buscando alternativas, quando fui ao site do SJ – que é uma das empresas de trem da região – e consegui comprar passagem para Stockholm, mas em cabine compartilhada. Naquela situação, eu já não estava nem preocupada com isso, eu queria chegar em Paris.

Nosso trem partiu para Stockholm no dia seguinte (17 de abril) e passamos a noite no trem. Chegamos em Stokholm no dia 18 de abril, no final da manhã. Achei que a situação já havia melhorado, mas o vulcão não aliviou e os aeroportos continuavam fechados, aumentando ainda mais o caos em todos os sistemas de transportes da Europa. As filas na estação de trem de Stockholm eram enormes, mas conseguimos comprar nossa passagem para Copenhagem, porém somente para o dia seguinte. Fomos procurar um hotel e ficamos hospedadas em um navio ancorado que foi transformado em hotel

Estávamos bastante cansadas, até mesmo pelo emocional de não saber ser iríamos chegar a tempo para o nosso voo de volta. Inclusive não sabíamos se nosso voo de volta ao Brasil partiria na data. Saímos para jantar, mas não fomos muito longe.

No dia seguinte, mais um dia inteiro dentro de um trem, porém conseguimos chegar a Copenhagem. Eu achei que lá a situação seria um pouco melhor pelas várias opções para os diversos países da Europa. Mas eu estava enganada. As filas na estação eram maiores do que em Stockholm e depois de horas para chegar ao balcão para comprar a passagem, o sistema caiu. Com o congestionamento de acessos simultâneos aos sistemas para compra de passagens de trem na Europa, o sistema ficou fora do ar por várias horas.

Por volta das 7 da noite eu consegui comprar as passagens para Paris. Chegaríamos a tempo para o nosso voo. Mas, os aeroportos até então estavam fechados. No dia seguinte, 20 de abril e véspera do voo para o Brasil, os aeroportos ainda estavam fechados e tivemos um dia inteiro de peregrinação até Paris. Saímos de Copenhagem às 06h30min. A primeira parada foi em Fredericia, onde trocamos de trem e fomos até Padborg. Em Padborg, trocamos de trem até Mannheim e de Mannheim seguimos até Paris. Este último trecho foi muito tenso porque o trem chegou com alguns minutos de atraso na estação de Mannheim e quase, mas foi por muito pouco que não perdemos o trecho mais importante da viagem. Corremos muito pela estação de Mannheim até descobrirmos a plataforma do nosso trem. Quando pusemos os pés dentro do trem, em menos de 1 minuto as portas foram fechadas e o trem partiu. Meu coração parecia que ia sair pela boca! Mas no final deu tudo certo e, finalmente, naquele mesmo dia, às 23h30min chegamos em Paris.

Fomos para um hotel e ainda curtimos um pouco de Paris no dia seguinte pela manhã. Quando acordamos, dia 21 de abril, tivemos a notícia de que alguns voos já estavam sendo liberados, mas não sabíamos se nosso voo partiria. Fomos relativamente cedo para o aeroporto, pois achávamos que estaria um verdadeiro caos e, para nossa surpresa, estava bem tranquilo para uma situação como aquela. Nosso voo atrasou muito, mas partiu e chegamos no dia 22 de abril ao Brasil. Parte do nosso planejamento de férias não aconteceu por causa do vulcão. Não conseguimos ir a Oslo, nem à Suíça e mal deu para conhecer Paris. Mas oportunidades não faltarão para eu conhecer esses lugares. Agora, é começar a planejar a próxima viagem de férias.

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