Capítulo 12 - China - 2008


Em janeiro de 2008, arrumei as malas novamente e parti para a Ásia. Desta vez o destino era a China. Não  estava de férias, estava trabalhando e estive por lá somente durante uma semana. Mas foi o suficiente para  eu mudar totalmente a minha maneira de ver os chineses. Eu tinha um pré-conceito formado e me surpreendi quando estive por lá.

Dia 14 de janeiro de 2008, eu e a Elizabete, na época, uma das gerentes na empresa  onde eu trabalho, chegamos em Shanghai. Nossa missão era fazer a integração de dois escritórios.

Depois  de muitas horas de voo, estávamos tentando nos acostumar com o fuso horário. De manhã tínhamos vontade de jantar. À noite tínhamos vontade de tomar café da manhã. No meio da tarde, o sono é quase incontrolável. E quando já estávamos nos acostumando com o fuso, estava na hora de voltar.

Nosso primeiro almoço foi uma aventura. Era domingo e estávamos no shopping. Procuramos um restaurante que tivesse, ao menos, um cardápio com fotografia. O garçom entendia pouco o inglês, mas conseguimos nos comunicar. Eu escolhi meu prato e a Bete, o dela. Fizemos os pedidos e depois de algum tempo somente um dos pratos foi servido. Ficamos aguardando o outro prato e nada. Chamamos o garçom e pedimos que ele trouxesse o outro prato, pois a comida que já tinha sido servida estava esfriando. O garçom nos olhou com uma expressão um pouco estranha, mas trouxe a comida. Depois do almoço, fomos, então, passear pela cidade. Eu queria ir até uma loja da Harley-Davidson. Eu tenho uma Harley e tento trazer alguma lembrança ou camisa dos países onde vou. Voltamos ao hotel para pegar um táxi. Ah, nossa referência é sempre o hotel.

Quando fizemos o check-in recebemos junto com a chave do quarto um cartão com o endereço e uma mensagem dizendo: “Leve-me ao endereço abaixo”. Tudo isso em mandarim. Isso porque a maioria das pessoas por lá não entende nosso alfabeto. Então, sempre andávamos com esse cartão. Chegamos no hotel e pedimos ajuda ao recepcionista para explicar ao taxista onde era a loja da Harley. Eu tinha levado o endereço comigo, mas não o tinha impresso em mandarim e sim em inglês. Ninguém conseguia entender onde eu queria ir. Até que um deles fez um som como se fosse uma moto e o taxista entendeu. Era bem longe do hotel e não chegávamos nunca. O problema é que não conseguíamos conversar com o taxista que somente fala em mandarim, mas ele insistia em tentar conversar conosco durante todo o trajeto. Era muito divertido.

Chegamos à loja da HD. Depois das compras, pegamos um táxi de volta e graças ao nosso cartão explicativo, voltamos sem problemas. Mais uma vez o taxista tentou conversar o trajeto todo, inclusive perguntou por qual caminho queríamos voltar. – Pela ponte ou pelo túnel subterrâneo? Claro que na hora não entendemos isso. Ele fez gestos e achamos que ele estava perguntando se queríamos ficar na parte externa do hotel ou se deveríamos entrar no estacionamento subterrâneo. E respondemos que queríamos a parte externa, também por gestos. Depois é que fomos entender que ele queria mesmo era saber se queríamos ir pela ponte ou pelo túnel.



Nós ficamos hospedadas no distrito de Pudong, considerado o centro financeiro da China. Na foto acima, ao fundo, está a Torre Pérola do Oriente com 468m de altura.

À noite, fomos jantar. Desta vez em um restaurante um pouco mais tradicional, e novamente eu escolhi o meu prato e a Bete escolheu o dela. Somente um dos pratos foi servido e mais uma vez pedimos ao garçom para que trouxesse o outro. O maître se aproximou e delicadamente nos deu uma “bronca”. Na cultura chinesa nada é individual, tudo é compartilhado. Então, o maître nos informou que ele somente traria o segundo prato depois que começássemos a comer o primeiro. Foi então que começamos a entender um pouco da cultura oriental, tão distinta à nossa.

Durante a semana não tivemos tempo para conhecer nenhum ponto turístico de Shanghai em função do trabalho, mas tivemos algumas histórias interessantes.

Na 2ª. feira, pela manhã, chegamos no edifício onde fica o escritório e passamos pela segunda situação divertida. Estávamos aguardando o elevador e outras pessoas foram chegando no hall, também fazendo o mesmo. Pensamos que seria organizado como estamos acostumadas, onde normalmente aguardamos as pessoas saírem do elevador para entrarmos. Quando o elevador chegou, não deu tempo nem de pensar. Quando percebemos, o elevador já estava cheio e tivemos que aguardar o próximo. Mas, desta vez ficamos preparadas. Quando o elevador chegou, já estávamos em posição de guerra e assim que as portas se abriram, literalmente, nos jogamos dentro dele, junto com todos os outros chineses. Aprendemos que nunca devemos sair de nosso país sem antes buscar aprender como é a cultura local.


Exceto na 4ª. feira, durante todos os outros dias da semana fomos almoçar com as pessoas que trabalham no escritório de Shanghai e sempre em algum restaurante tradicional. No dia mais importante, fomos ao restaurante mais tradicional da cidade onde personalidades como George Bush já jantaram. Ficamos em uma espécie de sala reservada, e o anfitrião sempre senta de frente para a porta. É ele quem escolhe tudo que os convidados vão comer. Lembro-me bem da água-viva, do pato de Pequim (que foi o prato que eu mais gostei) e do rabo e cabeça do peixe que, segundo a tradição, são as partes mais nobres do peixe as quais são oferecidas aos convidados. Eu provei de tudo. Ou quase tudo. A única iguaria que não tive coragem de provar foi o ovo de 100 dias. Esse ovo tem muitos nomes: ovo de 100 dias, ovo de 1000 dias, ovo de 100 anos, mas não passa de 100 dias enterrado. Isso mesmo. O aspecto não é do mais atraentes, sua clara é escura e a gema, verde-musgo. Admiro quem tem coragem de provar.

Na 4ª. feira, teve um acontecimento que significava muita sorte para os chineses: nevou levemente em Shanghai, o que não é muito comum. Era o ano 2008. Os chineses têm o número 8 como significado de sorte e ainda teve a neve. Disseram que nós éramos pessoas de muita sorte. Não foi por acaso que a abertura das olimpíadas de Pequim aconteceu em 08/08/08 as 08h08min da manhã. Eu nasci no dia 08/08 e espero que os chineses estejam certos com relação a esse número!

Neste mesmo dia, estávamos com muito trabalho e não fomos almoçar com as pessoas do escritório. Resolvemos ir ao shopping com mais uma brasileira e que também não falava nada de mandarim ou qualquer outro dialeto chinês. Procuramos um restaurante que tivesse fotografias no cardápio. Nenhuma das atendentes falava inglês. Por fim, depois de muito gesticular, fizemos nosso pedido e veio tudo certo. Eles não têm hábito de utilizar guardanapo durante as refeições e eu não consigo ficar sem ele. Resolvi pedir um guardanapo. Foi superdivertido porque eu fiz muitos gestos e a atendente entendeu o que eu queria, porém ela queria me explicar que era cobrado um valor pelos lencinhos de papel. Eles não usam guardanapos como os nossos, eles trouxeram lencinhos de papel. Nenhuma de nós estava entendendo absolutamente nada, quando a atendente resolveu escrever. Achávamos que ela iria desenhar algo e desenhou, ou melhor, escreveu em mandarim. Rimos muito porque continuamos sem entender, até que depois de uns dez minutos entendemos que nos custaria algo. Paguei separadamente pelos lencinhos e passei a carregá-los sempre na bolsa.

Somente no sábado, nosso último dia na China, tivemos a chance de visitar o Yuyuan Garden. Esse jardim foi preparado em 1559, na dinastia Ming, por um cidadão chinês que levou 20 anos construindo-o para oferecê-lo ao seu pai. Desde então, o jardim sofreu muito desgaste e foi totalmente reconstruído pelo governo chinês em 1961, quando foi aberto ao público e declarado monumento nacional em 1982.


Na próxima foto eu estou no meio do hall principal do Yuyuan Garden.



O hall principal é cercado por várias “salas” com estátuas belíssimas douradas e lojas onde compra-se incensos. Há salas para orações como esta.



É no jardim que se encontra a famosa ponte das nove curvas. Segundo a tradição, a ponte foi projetada desta maneira para dificultar a passagem dos espíritos do demônio.



Nossa passagem pela China foi curta, mas deixou saudades. No mesmo sábado pegamos nosso voo de volta ao Brasil.






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